sexta-feira, fevereiro 29, 2008


terça-feira, fevereiro 19, 2008

Flying Chickens

Eu adoro viajar. Nao para qualquer lado nem de qualquer maneira. Nao sou daquelas aventureiras que vao de mochila às costas para lugares inóspitos com a sensaçao de estar a explorar o mundo e que dormem em quartos sem tv, com baratas gigantes, sem higiene ou água quente.
Comigo nao há cá viagens sem levar secador de cabelo. Quem tem carapinha perceberá.

Mas o que eu sinto hoje em dia é que é preciso gostar muito de viajar para o fazer, porque a viagem em si é um nojo, um verdadeiro nojo. Só se aguenta porque do outro lado da barca do inferno está um pequeno éden tropical.

Entar no aeroporto é o principio de um pesadelo saido da twilight zone.
O check in tres horas antes e as suas filas intermináveis, o ter que lamber as botas à parva da hospedeira para tentar ter um lugar de jeito, que nunca há, pelo menos para mim.
Segue-se um passeio quase sempre muito ensonado pelas lojas de gravatas manhosas e cheira-se trezentos e dez perfumes até ficar com dores de cabeça.
É nesse momento que ouvimos uma voz a explicar que o voo se irá atrasar quatro horas porque sim.
E lá nos arrastamos para a sala de embarque onde começa o longo e vil convivio com os outros passageiros que infelizmente pelo factor tempo e espaço aprendemos a conhecer muito para além do desejado.

E Isto é a parte boa.

A partir do momento que se entra no aviao é a segunda guerra mundial. Eu dei por mim a andar lentamente na mangueira e a pensar nos vagoes para auschwitz .
Uma amálgama de gente desumanamente comprimida entre cheiros, bactérias, tosses e espirros, para nao falar do resto.
A histeria e avidez colectiva na chegada ao aviao, genero jogo das cadeiras como se nao fosse haver lugar para as malas e para sentar todos os passageiros. Arrumam os bagulhos com as maozinhas gordas e pensam "ganhei! já me posso sentar a arfar!".

E a comida? Como é que pessoas normais bem nutridas que nao moram debaixo da ponte se sujeitam a comer aquilo? só porque é de borla? uma refeiçao de quê, cinco euros?

Deviam era pagar a quem comesse aqueles ovos sem gema e doces pintados com canetas de feltro.

Seja de que duraçao for o voo, eu só entro na casa de banho em caso de emergencia, mesmo. Aqueles cubiculos com um cheiro nauseabundo onde nem sequer há angulo para se fazer nada e para uma descendente do H.Hughes, tocar seja no que for é morte certa.
Mas se não morrermos infectados podemos sempre ser sugados pelo autoclismo gritante genero filme de James Bond, " Now you shall die Mr.Bond ".

Para nao falar das hospedeiras ou lá como se chamam agora, que andam ali de um lado para o outro com um sorriso verde e cheias de vontade de torçer o pescoço a toda a gente, o que eu percebo perfeitamente, porque as pessoas sao umas chatas.
Como tenciono continuar a viajar bastante, há algum tempo arranjei uma soluçao para minimizar o trauma do aviao.
Entro, sento-me, como uma pastilha, leio uma revista enquanto o aviao levanta.
Mal estamos no ar enfio um stillnox pela goela abaixo, ponho uma venda, ponho uns tampoes nos ouvidos, tapo-me com duas mantas por cima da cabeça e encosto me numa almofada insuflável. Fico uma especie de burka voadora. E funciona.

Só acordo quando o aviao pousa.
Fico um bocado tonta durante umas horas porque aquilo é forte, mas é como magia. Sou teletransportada de um ponto para o outro sem ter que presenciar a decadencia do ser humano no aviário a debicar a caixa de aluminio e a pedir mais pão de plástico.

E se o aviao cair, qual mascara qual carapuça. Deixem-me mas é dormir!

sexta-feira, fevereiro 08, 2008