The Loss of Inocence

Ontem, como tantas vezes, passei pelas Amoreiras a caminho de casa, e reparei no meu antigo Liceu onde vivi quase toda a minha infancia e alguma adolescência.

Normalmente olho para lá e penso nisso dois segundos, mas ontem abrandei o carro e fiquei a reparar em cada parte do edificio, no jardim, nos pateos, onde tanta coisa da minha vida aconteceu, e lembrei-me de como tudo era tão leve, tao inconsequente, tão ingénuo e sobretudo tão despreocupado.

E mesmo tendo que me levantar ás seis da matina que é o terror total para mim, e ter que ouvir falar françês o dia inteiro, coisa que ainda hoje em dia tem as suas sequelas pois ninguém me ouve dizer uma palavra em françês, a verdade é que me lembro de estar sempre bem disposta em amena cavaqueira com as minhas amiguinhas e a fazer loucuras inesperadas que me caracterizavam, tanto como os meus canudos dourados que eu tanto odiava.

Não é que não houvesse algum stress, pois obviamente que, com psicopatas franceses a darem aulas aos berros, era preciso ter algum estômago, mas a vida passava alegremente e tudo o que acontecia, acontecia e pronto.

Não se ficava a moer todas as decisões durante semanas e a carregar fardos mentais esgotantes.

Era sem dúvida um lifestyle mais simples.

Agora tudo tem consequências, tudo tem que ser medido, pensado, falado, repensado, arrastado até ao âmago.

Nada é fácil, nada é simples, nada é rectilíneo.

Há dois pesos, duas medidas, vários caminhos e ramificações que se complicam e se embarassam em nós infindáveis e irremediáveis.

À medida que crescemos já não somos uma pessoa, somos uma partícula mínima que faz parte de todo um mundo ao qual não podemos fugir só por lhe virarmos as costas.

Tudo volta a cair-nos em cima, mais tarde ou mais cedo, isso é inevitável.

Talvez a isto se chame maturidade, talvez se chame perda de inocência.